domingo, 11 de julho de 2010

Bom Dia, meu amor.



A respiração ofegante e morna dela atingiu-lhe a nuca, arrepiando cada pelo de seus braços, fazendo com que ele despertasse assustado, espremido naquele sofá de dois lugares feito de algo sintético esverdeado. Ele tentou se virar aos poucos, temendo acordá-la, mas assim que suas mãos tocaram sua curva cintura, foi atingido por um par de círculos azulados concretos, lhe admirando a alma. Ela sorriu. Ele a abraçou e lhe roubou um beijo de bom dia, como veludo, silenciosamente explodindo, quase sem tocar. Ela sorriu um pouco mais.
Permanceram com seus braços entrelaçados sem sentir nada além do calor da pele nua um do outro, até que o Sol começou a tocar seus pés, ele olhou para a janela entre aberta, fitando a fina linha de luz que atingira a sala. Levantou uma de suas mãos na tentativa de ver as horas em seu relégio. Parado. "Talvez o mundo finalmente tenha acabado..." Murmurou. Ela esticou o braço tentando alcançar o pequeno relégio de ponteiro sobre a mesa de centro. "Cinco, dez, quinze... quase 14h." Ela disse, após fazer as contas com os ponteiros.
"Fome?" Ele perguntou.
"Fome!" Ela respondeu, esboçando um sorriso leve.
Ele se levantou aos poucos do sofá, se espreguiçando e soltando curtos gemidos descansados e ficou de pé para apoder ajeitar sua samba-canção. Ela respirou fundo e lhe pediu o telefone. "Chinesa ou Japonesa?" Perguntou, mas recebeu como resposta um "tanto faz", dito pelos ombros dele. Enquanto discava, ela o puxou pela mão, fazendo com que ele caísse sentado no sofá, na altura de seu estômago, ele pegou sua mão, entrelaçou os dedos e se manteve brincando com a ponta de suas unhas enquanto ela falava com alguém do restaurante japonês, tão distraída que tinha até graça. Ele mal ouvia o que ela dizia, ouvia apenas o som da sua voz.
"Tudo bem. Por favor, peça ao motoboy que suba aqui no apartamento, porque o interfone quebrou... tchau." Foi tudo que ele a ouviu dizer até desligar o telefone.
Ela lhe passou o fone para que ele colocasse de volta no gancho. (...)
Dormiu bem?" Ela perguntou, de cabeça baixa.
"Dormi com você, meu amor." Ele disse enquanto levantava seu rosto com um dos dedos, sério.
Ela esboçou um sorriso torto e se arrastou até o colo dele, como uma criança. Ele acariciava sua coxa com a ponta de seus dedos.
A melodia perturbadora da campainha soou três vezes curtas e uma mais comprida. Aquele toque ela familiar a ele.
"Já?!" Ela perguntou surpresa, direcionando seu rosto em direção a porta.
"Quem é?" Ele perguntou. Ninguém respondeu.
Ela levantou, pegou a blusa xadrez vermelha-e-azul favorita dele e a envolveu em seu corpo, cobrindo desde seus ombros até o começo de suas coxas. Ainda com a blusa desabotoada, ela caminhou até a porta, deixando que seus pés descalços deslizassem sobre o assoalho quase oco de madeira. Se debruçou na ponta dos pés e encostou o rosto na porta, tentando olhar pelo olho mágico, mas tudo que pôde ver foi uma figura escura se afastando cada vez mais rápido.
"O motoboy deve ter esquecido de algo e foi buscar, vou deixar a porta aberta, caso ele volte." Ela disse, caminhando de volta para o sofá, pulou no colo dele e o beijou, como se mantasse todo o resto para a puta que pariu.
Eu... eu estava sentada na escadaria, esperando que ela fechasse a maldita porta para que eu fosse embora sem ser vista. Afinal, pequeno, estava certo. Talvez eu não passe de más notícias.

Um viva ao meu post mais longo... nem li.

sábado, 10 de julho de 2010

You Sound So Angry...

Just calm down, you found me.


Eu sou retardada ou sou apenas alegre demais? O nosso conceito de alegria é esquisito, quase um distúrbio... gostamos assim. Tudo que partilhamos não passou de um jogo, e eu adorava o jeito que jogávamos, perdidos, esquecidos nessa cidade abandonada.
É assim que deve ser, o meu mundinho desinteressante finalmente interessava. Por quê? Foda-se o porque. Estamos perdidos na tragédia e a terapia não preenche mais o vácuo, não sei o que é amor, e por falta de coisa melhor, essa é a minha desculpa.
Viver e não respirar, suplicar pelo mundo em que nada importava, nessa cidade assombrada, essa cidade que não existe, essa cidade que só acredita em nós dois, essa porra de cidade que aos poucos desaba.
Agora está partindo, cada passo te leva pra longe, pra mais longe, enquanto fico aqui, sentada, ouvindo passos vindo em minha direção, finjo que são passos seus voltando pra matar a saudade, mas continua partindo, está indo pra casa.

Eu te amo.



É, assim. Sem coraçãozinho, sem decoração, sem sorrisos, sem suspiros, sem coragem. Áspero, frio. Só com um ponto final. Eu te amo, caralho.

sexta-feira, 9 de julho de 2010



Até os ratos percebem que o problema está chegando, afogando a cidade eu os vejo, tão pequenos, correndo. É sempre a mesma coisa.
Ela permanece sentada em seu sofá, apática, com seu cinzeiro cheio, mesmo que seja com as cinzas do cigarro roubado do maço dele e sua garrafa vazia de um consolo temporário, que acabou cerca de vinte segundos depois que ele virou as costas. Mesmo ansiosa por sua chegada, ela não quer acelerar um suspiro, manterá sua indiferença.
Ele sabe dizer exatamente como ela se sente só de olhar em seus olhos cinzentos, e quando ele vê que ela está sorrindo e suspirando sincronizadamente, ele parte, a fazendo miserável novamente. Ele parte porque sabe que ela sente sua falta, e nem ele sabe dizer porque ainda ainda volta. Ratos sempre voltam.
Não importa o quanto ela diga, grite, esperneie que testá-la será em vão, pois o fim já havia chegado e ela não sentirá mais sua falta pois ele já não importa mais, ele continuará a ir e voltar como se não tivesse nada a dizer, pois não importa o quanto ela minta, ele sabe ler seus olhos.
Resolveu partir. Ela. Com sua incerteza e depressão se chocando e a corroendo a cada pingo da chuva fria que toca seu rosto. Com sua garrafa vazia e seu cinzeiro cheio de lembranças da memória dele, Ela se afastará para que ele sinta saudades. Pena que não sabe ler os olhos que pertencem a ele. Ela tirou o casaco do mancebo e o vestiu com pressa, prendeu os finos e curtos fios de seu cabelo preto com um elástico que mantinha no pulso, colocou a mão na maçameta e respirou fundo, assim que abriu a porta, ali estava ele. Fingiu que não viu apesar de seus olhos brilharem e praticamente mudarem de cor ao atingir os olhos dele. Ela parte.
Ele a segura segura pela mão e pede num sussurro que ela fique. Enquanto ela o olha de cima a baixo ele entrelaça seus dedos nos dela, como se a prendesse. Ela apertou os olhos como se lutasse contra. Não conseguiu partir depois que ele riu, aquela risada tão única que franze seu nariz. Então ali, no corredor, ficou. Sua raiva hipócrita partiu. Mas aquela risada cheia de cinismo não foi a troco de nada.
"Se tivesse segurado minha mão enquanto eu me afastava, nunca teria partido."

O Segundo Nome da Tortura.



A televisão começa a chiar descontroladamente, mas não vou desligá-la. Abaixo da minha cabeça descansa meu crucifixo que massageia minha fé trêmula pelo segundo nome da tortura.
A doce melodia da canção de ninar começa a soar em meus ouvidos, parece que tudo aqui tem vida própria. Sei que aquelas notas suaves foram feitas para acalmar quem as ouve, mas o nervosismo domina minha consciência insana, e a canção de ninar agora me incomoda. O tique-taque do relógio me incomoda. O som da minha respiração ofegante me incomoda. O eco do meu coração vazio me incomoda.
As sequelas daquela tortura delicada me perseguem, e eu as sinto cada vez que meu peito se enche de fracasso e miséria. Refiro-me a tortura, tortura real, onde aquele toque sutil e seco queima minha pele. Onde aquele sorriso falso e apagado cega meus olhos. Onde toda aquela indiferença parte meu coração em milhares de partes espalhadas pelo mármore frio como teu toque. Com a pele queimada e os olhos cegos, não há nada que possa fazer além de esperar que o crucifixo que descansa sob mim apague tua face gravada atrás de meus olhos, e com ele evapore teu timbre desafinado.
A televisão não para de chiar e explodir pontos pontilhados que não param quietos, não me distraem, não me deixam em paz. A canção de ninar continua a apedrejar meus ouvidos. O tique-taque do relógio permanece a confundir minha cabeça. Minha respiração ofegante insiste em tornar minha meditação mais difícil. O eco do meu coração vazio finalmente rendeu-se a minha implicância. Rendeu-se ao segundo nome da tortura. Teu nome.